O BASTONÁRIO
Quando foi eleito, um amigo meu, ex-advogado, mostrou-se desconfiado com a sua prosápia. Acha que muito do que o actual bastonário da ordem dos advogados afirma é inflamatório mas pouco consistente.
Talvez seja. Mas a urticaria geral que as suas declarações provocam sempre que fala em diminuir os privilégios de alguns, repito, alguns, advogados e dirigentes da ordem, fazem-nos desconfiar do fogo que haverá por detrás do fumo. Números como 5 milhões de euros anuais de cotizações atraem, de certeza, os ambiciosos, os de pouco escrúpulo e aqueles que acham que Deus os colocou na Terra para nos iluminar a todos (os que não entraram para a magistratura, quero dizer, porque esses nem se sabe quem os colocou no trono altíssimo de onde nos regem...).
Eu, por mim,não sei. Mas vejo os edifícios onde a ordem se abriga. Os restaurantes onde comem. A forma como saltam dos postos administrativos para a riqueza.
Peço desculpa, terão muita razão em nos dizer que o homem gosta de incendiar o caminho, mas não acreditem que estamos todos cegos para acreditar nas exclamações indignadas de advogados. Até porque "verdade" e "advogado" (sobretudo, funcionário de uma ordem corporativa que não permite a quem exerce a profissão não lhes pagar mensalmente) nunca na vida serão sinónimos.
3 comentários:
Confesso que não gostei deste post. Achei-o preconceituoso. Verdade e advogado não são sinóminos, é certo. Mas também é certo que verdade não é sinónimo de escritor, artista, professor, médico ou de qualquer outra profissão. Em todas, incluindo a advocacia, há pessoas honestas e desonestas.
Sou advogada e não votei no actual bastonário. Não gosto do estilo e vejo-o, como suspeitei, mais preocupado com aquilo que outros ganham, como os juízes, do que com aquilo que são as dificuldades reais de quem exerce a profissão que ele superiormente orienta. E, por isso, percebo as reservas que algumas pessoas, como o seu amigo, colocam à pessoa ou, melhor dizendo, ao seu trabalho.
Não concordo com a crítica desenfreada que o Sr. Bastonário e outros fazem a quem ganha muito. Isso, por si só, não é crime nem pecado. Mau é haver quem ganhe tão pouco... Além disso, o Sr. Bastonário soube aprovar uma remuneração para si mesmo e um subsídio de reintegração. Determinou quais os valores adequados e concluiu ser um benemérito...pois ainda perde cerca de € 30.000,00. Ora, o meu rendimento anual é inferior ao valor que ele diz perder...
Em suma, não gosto do estilo e não gosto da política, mas, antes de mais, não gosto que me considerem afastada da verdade por ter escolhido uma profissão estigmatizada - marrões e aldrabões.
E não esperava isso de quem revela ter uma mente tão aberta e tão livre de preconceitos, como o PC.
E, já agora, apesar de serem conhecidas algumas "nódoas" na magistratura, o acesso a essa profissão é difícil e quem o consegue merece o reconhecimento do mérito.
Concordo com alguns aspectos da sua opinião. E, sim, é absolutamente certo que "verdade" não rima obrigatoriamente com nenhuma actividade. Para esclarecimento prévio, não tenho, pelo acima referido, nenhum Pré-Conceito sobre nenhuma profissão, e muito menos, sobre qualquer pessoa. As minhas opiniões assentam, naquilo que em tempos idos se chamava "uma opinião honesta". Coisa em desuso, assente na observação e na experiência, que tal como as estatísticas, tem uma margem de erro e correcção.
Logo, é provável, que o bastonário também seja um bocado aldrabão e, claro, que terá acautelado o seu pé-de-meia. Nisso não diferirá de muitos dos nossos patrícios. Advogados inclusive.
Já agora, e nesta questão nunca poderíamos estar de acordo, uma vez que seria preciso abandonar o estudo e uso do Direito, para ganhar a distância necessária, tenho para mim, desde há muito, que a "Justiça" no sentido da aplicação de uma lei geral sobre os indivíduos é uma ilusão social. Uma forma de nos sossegar enquanto por cá andamos. Fingir que há bons e maus. E que para os maus haverá sempre um senhor de toga que decide "superiormente", coadjuvado por heróicos defensores da lei que mergulham nos códigos e nos factos para repor a harmonia. Nada disso é verdade, se fosse, a "criminalidade" teria desaparecido há muito, à força de cadeia ou, se olharmos para trás, de tortura, fogueira, forca, cutelo etc, etc.
Acho válido que se acredite que o que se faz serve para alguma coisa, seja-se advogado, juiz ou... escritor. Mas na verdade, estamos todos iludidos. Com vantagem para o escritor que sabe estar a lidar com matéria ilusória.
Um abraço e obrigado por ter discordado.
Gosto da frontalidade do Marinho, mas acho que um estilo mais conciliador e diplomático poderia ser mais produtivo. Mas pronto.
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